

Acabei de ver um vídeo sobre um produto tecnológico realmente inovador feito e pago por dois influencers.
Ambos pescam zero do que estão a falar e imagino as conversas e explicações dadas pelos responsáveis da marca e da agência que os escolheu para a coisa correr minimamente bem.
Não vi o vídeo até ao fim, mesmo que tenha arte e manha para se continuar engajado e dar mais tempo de antena ao dito o que vai garantir um melhor resultado no tempo de visualização o que, depois, se traduz no melhoramento do algoritmo e nas múltiplas capacidades de mostrar aos amigos, sem eu saber, involuntariamente, que acabei de ver um vídeo “muita bom”, mas que só se sabe sem o meu conhecimento… enfim.
Demorei algum tempo a olhar as caras do casal influencer. Sim, porque agora já se trabalha com casais pois estes perceberam o filão que é dar a cara, o cú e o cabelo por portais noticiosos ou, numa toada diferente, críticas a terceiros que se metem em casas durante meses.
Este vídeo pago a influencers sobre um produto tecnológico que vai custar mais de mil euros, tenta, como muitos anteriores, piscar o olho e abrir a carteira de quem realmente está disposto a dar tanto dinheiro por um, vá lá e digamos, smartphone. De última geração. Pronto.
Mas é aqui que a coisa começa a derrapar. As únicas pessoas que conheço e estão (e atenção, PODEM) dar tanto dinheiro por um equipamento do género são:
- Os early adopters ricos
- Os early adopters a prestações
- Os conhecedores de todos os trunfos técnicos e características inovadoras dos equipamentos que, em alguns casos, até vão ser utilizados.
E o que mais me confundiu neste vídeo, pago a um casal de influencers? A vantagem de nele nunca perderem tempo a descrever as características técnicas, ou seja, a única coisa que realmente importa num produto novo e diferente dos outros.
Ou seja, e muito simplesmente, desculpem-me, a marca e a agência de comunicação pagam a um casal de influencers para tentarem convencer pessoas a comprar algo que:
- Não percebem
- Não tem o logótipo que mais gostam
- Nunca irão usar mais que 10% do potencial
Perguntam-me: como também influenciador que sou, e repararam nesta pequena diferença, mas que usa tecnologia do século passado na forma de escrita que realmente precisa de ser lida sem bonecada ou imagens, não estarei ciumento, invejoso, puto da vida?
Numa palavra: podia. Mas não estou. É que para fazer figura de urso tenho de ser realmente muito bem pago, coisa que somente alguns influencers conseguem neste paízeco.
São raros porque os comparo a jogadores de alta competição: têm vida curta porque surgirá sempre um mais novo, mais rápido e melhor nos próximos anos.
Os produtos, esses, serão sempre iguais, com mais ou menos isto ou aquilo, mas as caras têm de ser larocas, com dentes imaculados, rugas pintadas com produtos ultra específicos e filmados barra fotografados por malta top que sabe mesmo da poda técnica e que não ganha num mês o que um influencer ganha por… produto.
O que realmente é interessante neste mundo influenciado, e está provado, é que poucos consumidores chegam realmente a adquirir o produto que está a ser apresentado. E isto por várias razões:
- Não têm interesse
- Não têm dinheiro
- Só lhes interessa um logótipo que não é aquele
Então para que se gasta tanto tempo e dinheiro? Será porque é moda e todas as agências têm de ter influencers para vender às marcas só porque as outras marcas têm outros influencers que tentam impingir produtos semelhantes e nos mesmos canais e que já foram indicados por outras agências?
Será que ser-se influencer não servirá apenas como fio narrativo para se conseguir uma compra ou, por exemplo, uma preferência ou, indo mais longe, um voto das pessoas que:
- Se estão nas tintas
- Tanto lhes serve a lista A ou B ou C
- Assinam de cruz porque whatever
No meio disto tudo já me perdi e esqueci-me do equipamento que o casal de influencers estava a tentar vender.
Talvez me lembrasse se fossem…. influenciadores. Lá está! Em português nos entendemos. E isso sim, faria toda a diferença. Porque um infuenciador é um opinador enquanto que um influencer não é um opinator.
Porque, e cá só entre nós, há quem faça zapping cada vez que surge uma pessoa que é tão moderna que só lá vai com um estrangeirismo bacoco e inútil.
E essa pessoa muito moderna, geralmente, não compra aquilo que está a ver porque a sua atenção só aguenta cerca de oito segundos.